quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Lugar de negro e pobre é na favela? Sim, por que não seria?

Versos | Prosas - Por Isaac Silva dos Santos.
Morte, violência, drogas, desigualdade, destruições, marginalidade, pobreza e miséria são sempre sinônimos na voz de uma sociedade alienada, midiática e por que não ignorante de fatos que acontecem nas favelas brasileiras. Torna-se comum indivíduos descreverem  a favela como lugar de raça negras e de classe social baixa, ou seja, lugar do pobre e do  negro.  A favela é sim uma grande verdade de demandas de pobres e negros, entretanto, seria esse o pior lugar do mundo para viver?
Porque é pejorativo como um local indigno de sobreviver, de educar filhos? No texto Sobrevivente da selva de pedra, o autor José Antonio C. Jardim, descreve uma favela com grande potencial social, cultural e econômico. A obra apresenta fatos que ajudam a desmitificar a favela como lugar de violência, alienação e bandidagem. A reflexão ainda propõe uma aproximação da realidade de quem sobrevive nestes locais a “selva de pedra” que por vezes são ignorado politicamente, culturalmente e socialmente, ou seja, um povo estigmatizado pela pele, classes social e localidades. O autor conclui sua análise, descrevendo que a grande massa da favela, não deveriam ser representada pela pequena porcentagem marginais que se escondem e objetivam recrutarem meninos e meninas para o crime.
Precisamos compreender que a proposta se torna irrecusável por dinheiro “fácil” ou como forma de  auxiliarem financeiramente suas famílias. Percebe-se que os jovens favelados são tão sonhadores como qualquer outros fora desta realidade, todavia, os moradores da favela são sim, verdadeiros guerreiros que lutam diariamente contra um estigma empobrecedor e buscam seu lugar como qualquer outro individuo para proteger e cuidar de sua prole. Os funkeiros Dinho & Doca versam: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar, e ter a consciência que o pobre tem seu lugar.” Hoje, nesta reflexão percebo a problemática de propor uma intervenção diante de tantas colocações de que favela seja como o câncer de uma sociedade, que vivem lá quem quer, que precisam ir para bem longe, para não enfeiar a nossa cidade. Será?
Como aproximar uma realidade negligenciada, muitas vezes corrompida e muito mais emblemáticas que o povo da favela. Não há como negligenciar que a discriminação racial e social, que também é herança histórica e que sempre esteve ligada aos interesses políticos e econômicos, somada ao processo tardio e passivo da abolição da escravatura e exploração de mão de obra barato, como consequência esse efeito trouxe para os dias atuais a visão naturalista das desigualdades entre brancos e negros, entre classes e localidade, provocando as diferenças de oportunidades até mesmo no desempenho educacional, demarcando um traço de inferioridade socioeconômica.
É inegável ao se analisar a história do Brasil e sua formação tanto cultural, como social e econômica, a importância e a participação ativa da população pobre e negra neste processo. Entretanto, desde a forma como foram divididos as classes sociais no Brasil, cuja trajetória é marcada pela quase inexistência de políticas públicas para reverter os lastimados dados ora apresentados, que refletem uma realidade de total exclusão dos menos favorecidos na sociedade ativa.
Atualmente a sociedade deva atentar para a importância de ações afirmativas como as urbanizações, saúde, acessibilidade, educação, saneamento básico e etc. Neste sentido é indiscutível a importância da aproximação da sociedade, com realidade obtidas de relatos e informações dos moradores e não de senso comum ou mídias que empobrecem a favela, e afastam os olhares de política pública a ser utilizada para diminuir esse abismo social entre a população favelada e as demais etnias que compõem a sociedade brasileira.
Isaac é psicólogo, pastor e ativista em favor das questões afro-brasileira.

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