quinta-feira, 15 de março de 2018

História que a vida nos conta. ... Marias!

Versos & Prosas – FAVELA | Por José Antonio Campos Jardim
Dia 08 de março é dia de comemoração, festa, reflexão, união e enfrentamento. Supostamente uma data comemorativa. ... Dia da Mulher: Incalculáveis em meio à população, podemos até compará-las às estrelas do céu, pois são muitas e cada uma contem seu próprio brilho e beleza particular. Enfim, não medimos esforços e fomos atrás da nossa estrela, Dona Maria. Na pauta tínhamos em mente relatar uma história real que contemplasse o Dia da Mulher – seria está nossa forma de agradecer as mulheres e por uma homenagear todas. Passamos então a mapear algumas histórias, algumas visitas e bate papos, lindas histórias escutamos, mas estávamos-nos sobre á direção do nosso feeling, crendo piamente que quando chegasse o momento encontraríamos. Seguimos nossa peregrinação por algumas semanas e em alguns momentos cogitamos desistirmos da pauta, pois corríamos contra o tempo. Nosso objetivo era postar o texto na madrugada do dia 7 para 8 de março. Como previsto não aconteceu, mas enfim, foi bom, conhecemos varias Marias e á Dona Maria Anália de Moraes – uma senhora simpática de sorriso acolhedor, calma e tímida; á conhecemos durante o Curso Gestão Social. Dona Maria falou pouco ao grupo presente, mas observou muito para ser mais exato falou só uma única vez quando convidada para se apresentar. Entre uma explicação e outra do professor e argumentos dos participantes, Ela ouvia atentamente nos mínimos detalhes e de imediato sussurrava no ouvido da acompanhante Elisangela, filha.
Fizemos então o convite para conhecê-la, de imediato com sorrido disse sim. Alguns dias depois estamos nós em sua casa, recepcionados com café, bolachas e lindas uvas que ela mesma cultiva no fundo do quintal. Mas, foi em Vitória, interior do Paraná, que a nossa Maria veio ao mundo, mais uma brasileira vencedora que nasceu para brilhar. De família humilde, a paranaense Maria Anália de Moraes na adolescência passou por algumas dificuldades como milhares de jovens no dias de hoje, ela teve que abrir mão dos estudos e da adolescência para ser empregada doméstica, os recursos ajudavam nas despesa da casa. Não teve os mesmos privilégios das amigas de adolescência de estudar, brincar, namorar e se engraças com as coisas belas da vida em meio à calmaria do interior. Hoje, intelectual orgânica, militante comunitária á presidente de associação sem fins lucrativo, em Curitiba. Instituição que ela mesma de inicio na varanda de sua casa, nos contou que entre uma viaje e outra em busca de informações, levou um ano para registrar sua associação (ONG). “Uma coisa tão fácil de fazer, poderia ser feita em alguns dias, mas, eu só sei ler e escrever o básico, isto dificulta muito quanto tem que mexer com papelada, mas não desanimo não, eu vou atrás” afirma.
Algumas guerreiras são forjadas no cerne das batalhas e Dona Maria é uma dessas, aos 11 anos de idade, ela e aos outros 14 irmãos aprenderam á conviver diariamente com as dificuldades financeiras e a vida difícil do interior. E no inicio da sua adolescência, etapa intermediária do desenvolvimento humano, entre a infância e a fase adulta, Dona Maria foi repentinamente induzida ao amadurecimento ao ser entregue pelo pai ao serviço doméstico: “Nessa época, quando fui deixada pelo meu pai nessa casa de família para trabalha, longe de casa eu só chorava dia e noite de medo de nunca mais voltar para casa ver meus irmãos e meus pais”. E, assim era e é em alguns casos ainda hoje, tidos como parte da propriedade, as Marias não decidiam sobre ás suas vidas e corpos, os salários ganhos. Anos atrás elas não poderiam sequer se matricular em instituições de ensino, os homens é quem decidiam por elas, os pais, irmãos mais velhos e depois o esposo. Sobre uma hierarquia exacerbada doentia á sociedade masculina reconheciam atos truculentos como um dos valores fundamentais da masculinidade, um homem sem rebanho dominante é um ser sem hombridade, e, em geral, era visto como um “castrado social”. Antonio, o irmão mais velho compadecido de que sua irmã estava sendo escravizada e não merecia tal atrocidade, após dozes meses resolveu buscá-la não creditava que ele veio me buscar, o trabalho era pesado, fui muito humilhada e quando o vi, o Antonio, meu irmão, chorou muito, mas desta vez foi de alegria, pois sabia que voltaria para casa”.
Em meio ao misto de alegria e responsabilidade de contribuir financeiramente em seu lar, Dona Maria vivenciava a chance de voltar ao lar que tanto sonhou nas noites frias, no quarto dos fundos da casa da patroa. Infelizmente aos 13 anos, novamente forçada ao trabalho em casa de família para ajudar no sustento familiar, Ela, permanecendo por 18 anos. Cansadas de ser submetida ao trabalho pesado e horas humilhada, resolveu fugiu de casa para se casar. Convencida que dias melhores estavam por vir, pois, a vida em seu lar não fora nada fácil, pai extremamente rígido e autoritário, resolveu fugir com amor de sua vida, imaginando uma vida melhor, doce engano, algumas anos se passaram, marido alcoólatra e não demorou muito para começar com agressões físicas e verbais, foram se tornando cada vez mais frequentes e intensas, de igual forma á bebedeira. Mas, agora não mais na condição de filha e sim de mãe, á história se repetia e era inaceitável uma mulher independente dos argumentos, abandonar o casamento. ... Continuei a trabalhar de doméstica, nas plantações, em empresas de produção sempre para ajudar nas despesas da minha casa; afirma. E assim se passaram 18 anos deste casamento, convencida que as agressões do marido á qualquer momento poderia ceifar sua vida, antes de terminar de criar seus filhos, decidiu separa-se e tentar a vida na cidade grande.
Em Curitiba, tratou de arrumar trabalho para criar os filhos e voltou á estudar. Passou a dedicar parte do seu tempo á outras mulheres, na horta comunitária e por 9 anos ouviu histórias. Em 2017, decidiu criar em sua própria casa o Clube das Mães Felizes na Vila Vitória Régia, um espaço que vá além das atividades oferecida de macramê, mas um local de escuta, disponível as mulheres para compartilharem suas alegrias e tristezas. Hoje, Dona Maria não mais está sob o domínio do outro, não é mais objeto de troca financeira, destinada à procriação e ao lar e sim, Presidente do Clube de Mães Felizes e o seu sonho é ver uma comunidade mais unida e melhor para os jovens, crianças e adultos, afastando-os das drogas e criminalidade através de incentivos ao primeiro emprego a atividades culturais e esporte e lazer. É necessário falamos todos os dias e não só nas datas comemorativas sobre as barreiras (simbólicas e reais), as mulheres não são objetos e não estão conosco neste mundo para fazer as nossas necessidades. Não podemos admitir que as Marias, sejam proibidas de sonhar e subdividir sua própria vida entre o presente, passada e futuro.
Obs: 
As informações foram obtidas por meio de entrevista diretamente com a Dona Maria e contribuições de sua filha Elisangela.
Deixe seu comentário e para sugestão de pauta nos envie e-mail:
contato.cufaparana@gmail.com


7 comentários:

  1. Excelente o texto e a historia é essa de tantas Marias que sofrem com a tirania masculina. Antigamente as coisas eram muito pior as mulheres tinhan de sofrer todas dores e humilhaçoes por parte do marido e se calar, era feio ser separada nem emprego arrumava. E depois de tantas lutas as Marias...conseguiram alguns avanços, mas falta muito para ser o ideal. Amei ver a Historia de minha mãe aqui e por essa fibra moral dela que não desanimo nunca o exemplo dela é tudo pra min.

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  2. Parabéns pelo texto José !!! Uma história triste, com muitas dores, mulher forte guerreira que hoje está aí firme seguindo seu caminho, como sua filha Elisângela disse antes era pior, e penso a decisão que ela teve que toma naqueles dias, sair ou não sair de casa ? Parabéns dona Maria pelas atitudes... Que seja inspiração para outras "DONAS MARIAS" Ao que não tem a mesma garra para levantar a cabeça e lutar pelos seus direitos.... 👏👏👏

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  3. Parabéns dona maria tenho muito orgulho de você.

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  4. Parabéns dona Maria tenho orgulho da senhora,pessoa boa que você e batalhadora pelas coisas que senhora quer ...

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