quinta-feira, 21 de junho de 2018

13 de Junho: Dia de Santo Antonio – feliz aniversário!

Versos & Prosas – FAVELA | Por: José Antonio C. Jardim.
13 de junho: Dia de Santo Antonio – feliz aniversário!

A foto em anexo é de 1988, na época com 14 anos, poucas eram as expectativas de vida para nós que vivíamos e sobrevivíamos nas favelas, não tão diferente dos dias atuais. E para chegar até aqui tive que romper comigo mesmo e com o ódio que adquiri e alimentei, durante anos, tive que aprender a lidar e driblar as estatísticas, romper com a dor em sabendo que era mais um á contar diariamente com toda a sorte de bênção para não ser o próximo “atingido” por uma bala perdida nas ruas ou drenado pelo sistema, crime. Na infância éramos nós bombardeados diariamente pelas mazelas e seduzidos ao crime. Em nossa área tinha-se de tudo ao alcance para seguir os descaminhos que nos levariam para a prisão ou para o cemitério. O rancor em via contraria alimentou profundamente minha vontade de sobressair ao destino imposto a nós. O medo de morrer jovem ou ser preso me fez abraçar as poucas oportunidades que surgiram pelo caminho. A desesperança e o rosto abatido anunciavam a insatisfação de ser subjugado e sentenciado por "nascer" na favela e não ter o biótipo padrão estabelecido pela “sociedade”.

Tamanha era a indignação ao deparar-me com realidade excludente, á exemplo: Para ir ao colégio tínhamos que passar à beira de condomínios, prédios de luxo e mansões que propiciavam uma visão pronta e acabada do abismo que separava as favelas do topo da pirâmide social no Brasil. E, é nestes espaços que nossas mães passavam parte do dia cuidando dos lares e filhos dos abastados e nós nas ruas entregues à própria sorte e aos cuidados de Deus e dos vizinhos. Enfim, de carregado de sacolas na feira para as senhoras, em Itabuna na Bahia á vendedor de bilhete de bicho e guardador de carro no centro de Londrina para lavador de carro em Cambé á boia-fria nas lavouras de café, soja e algodão. Em cada um desses trabalhos aprendi algo, mas foi nas ruas tive que aprender a lidar e driblar as estatísticas, com auxílio de pessoas e projetos sociais. Sabido que era mais um na linha de frente que contava diariamente com toda sorte de benção para não ser o próximo drenado pelo sistema ou pelo crime.
Para chegar até aqui tive que romper comigo mesmo, rasgar-me e renascer diariamente, tive que reprender abrir mão do ódio que alimentava e aprender amar para seguir contrariando as estatísticas, hoje, formado em teologia, psicologia, empreendedor social e, hoje podendo sim projetar visão de mundo e se fazer presente no discurso da vida pública. Não tendo que olhar para as periferias como o primo pobre da sociedade burguesa e achar como foi dito á nós que todas as mazelas emanam dos nossos territórios. Somos parte da sociedade e queremos espaços e oportunidades, sabemos que o passado não foi fácil, e, quando olhamos para o futuro, sabido que é possível trazem junto centenas de outros pares a fazer muito mais não só pelas favelas, ás famílias ou por si, mas pelo país como um todo, pois, sou movido pelas mesmas esperanças revolucionarias da adolescência / acredito em um mundo igualitário.

Comentário e sugestão de pauta: contato.cufaparana@gmail.com

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