quinta-feira, 31 de outubro de 2019

VIRADÃO ESPORTIVO PR – 2019

O maior evento de mobilização esportiva.
O Viradão Esportivo, promovido pela AEC - CUFA (Central Única das Favelas do Paraná), terá uma programação cheia de esporte e cidadania. Serão 36 horas de esportes e cidadania num evento que será realizado em diversas cidades, com participação das cidades de Curitiba, Cambé, Londrina, Nova Londrina, Campo Mourão, Ibiporã, São José do Pinhais, Colombo, Maringá, entre outras, nos dias 7 e 8 de dezembro de 2019.
Quem pode participar?
Crianças, jovens, adultos e terceira idade, moradores desde os bairros mais nobres as periferias, sem distinção de raça, cor, clero ou classe social. Todos podem participar praticando atividades esportivas tradicionais, como vôlei, futebol, basquete, etc, e mesmo mais inusitadas, como truco, xadrez, jiu-jitsu, etc. Um grande evento em prol do esporte, cidadania e inclusão, com dezenas de atletas e modalidades esportivas. O evento busca promoveu não só esporte, mas cidadania através de informação para família paranaense. 
Durante o evento, em diversos locais no Estado do Paraná, serão realizadas atividades esportivas, mais também intervenções culturais e informações educativas, saúde, entre outras, porém estes locais se transformaram em um grande centro esportivo, com produção da Central Única das Favelas em parceria com RPC e Paraná Esporte, Governo do Estado do Paraná e outros parceiros. Para saber mais contato: E-mail: contato.cufaparana@gmail.com ... neste, os interessados poderão saber sobre as modalidade, locais e também como escrever sua modalidade na maior maratona esportiva do Estado do Paraná.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

“NAVIOS PIRATAS”


VERSOS & PROSAS – FAVELA | Por Celso Athayde, 24 out 2019
Nos últimos anos, o Brasil passou por transformações que impactaram a favela de vários jeitos. A economia na base da pirâmide melhorou e uma nova realidade impõe novas formas de organização e reivindicação das bandeiras do movimento social.
O fato é que nos anos 90 meus amigos e amigas dos movimentos sustentavam com um orgulho quase santo que desprezavam o dinheiro. Nenhum argumento os convencia do contrário. Pior, até acirrava os ânimos. Talvez por isso muitos deles continuam passando necessidade em casa, com projetos lindos para educar os filhos dos outros sem conseguir educar os próprios filhos. Isso não é movimento social, é auto-destruição. Minha alternativa, a criação da Favela Holding, me trouxe muitos seguidores no Brasil, enquanto também fez aumentar em paralelo a quantidade de críticos. E eles muitas vezes menosprezam ou vulgarizam o debate econômico.
Todos os dias, somos obrigados a nos reinventar, em função do preconceito ou da alienação que domina muitos movimentos sociais sobre as mudanças nas favelas nos últimos anos. Todos os dias, somos obrigados a nos reinventar em função dos aparelhamentos políticos que impactam a entrega de grande parte das organizações. Somos também obrigados a nos reinventar em função da total falta de diálogo e da agenda política que tenha ligação direta com os anseios desses territórios.
Muito tempo já passou. A CUFA, organização que ajudei a fundar vai fazer 20 anos em 2020, e eu já não faço mais parte dela formalmente. Aliás, eu faço, mas agora é só como voluntário. Minha vida hoje é administrar negócios em favelas através da Favela Holding, um grupo com mais de 20 negócios. Com ela vou mantendo-os de pé e driblando o apetite do tráfico e da milícia Brasil a fora. É que as ações na favela só serão sustentáveis, se nos equilibrarmos entre a proximidade e a distância desses atores que controlam os comportamentos do lugar.
Eu tô com 56 anos, já. Olho para trás e me impressiono com o que já construímos. Os exemplos que demos e o legado que vamos deixar. Só nós sabemos os desafios que encaramos. Ser vanguarda não é fácil.
Não foi fácil. Mas daí olho para o presente e vejo 22 empresas sendo administradas a todo vapor, vejo uma Taça das Favelas mobilizando milhares de jovens nas favelas e vejo, finalmente, uma pauta positiva sendo imposta goela abaixo de quem torce contra o desenvolvimento da favela.
Se olho para o futuro, então, as oportunidades na favela, da favela e para a favela vão para os milhões. Pois a favela não tem somente carência, tem muita potência.
Tenho me perguntando nesses últimos meses sobre os riscos do momento atual, sobre os problemas que vem por aí agora que desbravadores de mares descobriram os 85 bilhões de reais que a favela movimenta todo ano.
Hoje temos muito bons exemplos, apesar dos riscos. Não por acaso, a Favela Holding provou que podemos receber investimento econômico externos em parceria com os moradores e apontar novos caminhos. É possível colocar a favela, mais do que como público-alvo ou coadjuvante da sua história, mas como protagonista da mudança.
Talvez por isso seja a hora de cobrar as repostas para as perguntas que fiz 19 anos atrás para alguns movimentos dos quais fiz parte e se orgulhavam em gritar que estavam ali só por amor, jamais por dinheiro.
Será que já não passou da hora de o Hip Hop se repensar? O Hip Hop deve mesmo se limitar a um movimento de denúncia, mas não de produção de mudanças reais nas vidas de milhares de jovens? Jovens que precisam de liberdade para serem felizes, e de educação para terem liberdade? Pois bem.
Sem o capital disponível, vamos ficar apenas no campo do discurso e, com a atual revolução tecnológica, anda muito difícil pautar um discurso de unidade; ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada dia mais preocupadas só com a própria sobrevivência.
O movimento negro precisa definir sua nova tática: a bandeira da reparação, ainda que fundamental, é suficiente? Ou vamos concordar que os pretos têm força pra pautar uma agenda econômica, já que representamos 40% da produção da riqueza desse país segundo os institutos data favela e locomotiva? É coisa de 1,7 trilhão por ano. E aí?
E a favela… É. A favela tem que tomar uma decisão agora, já, pra ontem, sobre si mesma: se vai se organizar para esse novo tempo ou não. Tempo em que as favelas são uma mata virgem observada por navios piratas ancorados nos asfalto, curiosos sobre o que comemos, como vivemos, o que pensamos. À espera de um momento certo de desembarque para dar o bote triunfal e levar o tesouro. Ou você vai me dizer que 85 bilhões não é um grande tesouro?
O Brasil mudou e não podemos mais aceitar predadores, não podemos assumir o comportamento de camundongos de laboratório apaixonados por nossos eternos cientistas. Não, não e não.
Há empresas, fundos de investimentos e todo tipo de negócio interessado em investir na busca de lideranças das favelas pra fazer parcerias e há aqueles que desejam apenas fazemos de empregados — ou o que eu chamaria de escravos sociais.
Meu conselho, se é que posso dar, é que precisamos olhar para as oportunidades e aproveitá-las, sim. Pensar em ganhar dinheiro como a gente merece, sem nunca esquecer de levar também prosperidade, empreendedorismo e emprego para a base da pirâmide. É preciso que as lideranças — já descobertas pelos empresários ou as que serão em breve — encarem esses desafios de frente.
Não vai ser fácil e vocês ainda vão ouvir é muito desaforo dos seus manos, como eu ouvi um dia. Poderão dizer que você se vendeu, que você traiu o movimento, que você não é mais o mesmo. Que agora você é fechado com os boys. Mas os críticos só percebam o valor de sua missão quando ela gerar um emprego para eles ou para seus pares.
É fundamental que essas fusões sociais gerem prosperidade para o coletivo. Alguém vai ter que pagar pra ver, pagar um preço inicial e receber os dividendos finais. E já que tem que ter alguém, então levante o braço.
Existem aí alguns movimentos de grandes empresários e empresas armados com lupas, eles estão desejando o nosso país chamado favela, para transformá-las em uma espécie de nova Serra Pelada. Eles até têm um discurso apurado sobre negócios sociais, estudaram inclusive nas melhores universidades do mundo e garantem que têm as melhores intenções, mas na verdade a maioria não tem nenhum compromisso com os moradores da favela, só com o que eles têm disponível no bolso. Eu classifico esses predadores como praticantes do “Caô social”.
Mas muita calma, existe muitos também que são comprometidos é apenas agora tem a chance de contribuir, e mesmo os adeptos do “ CS” podem sim, serem convertidos.
Sejam quem for, pensem como pensem, a favela é quem vai dar o tom. É quem vai ajudar a construir as regras. Por isso devemos estar alertas, sempre. O desenvolvimento econômico passa por parcerias, mas essas parcerias precisam ser saudáveis.
O movimento social da favela continua agonizando na dependência de políticos, e eles o que mais querem é alimentar essa enfermidade e nos manter doentes, dependentes. É dai que vêm os seus votos. Mas o que o movimento social da favela precisa fazer é imediatamente se juntar a empresas e fundos de investimento capazes de elevar a favela à altura da sua potência, sempre em parceria.
A única experiência social que a favela ainda não teve foi a de sócia. Insisto: precisamos ter consciência e responsabilidade. Dentro da favela, é o morador quem dita as regras, e não o capital.
Ao mesmo tempo em que vejo muitos empresários, artistas e famosos se movimentando em direção às favelas, vejo também os favelados se organizando para promover esses encontros, construindo soluções com empresas caseiras ou multinacionais.
Meu sonho é ver, o quanto antes, os favelados e ex-favelados como eu recebendo prêmios importantes, na área de economia ou talvez criando seus próprios prêmios. Não vou descansar até ver os favelados criando e disputando um grande mercado, o mercado da favela. Pulsante, rico, próspero.
No final do dia, o importante mesmo é perceber que os favelados entenderam que não estão falando do dinheiro pelo dinheiro, mas da possibilidade de transformação real a partir de uma revolução social por vias econômicas.