Versos & Prosas – FAVELA | Por:
José Antonio C. Jardim.
13 de junho: Dia de
Santo Antonio – feliz aniversário!
A foto em anexo é de
1988, na época com 14 anos, poucas eram as expectativas de vida para nós que
vivíamos e sobrevivíamos nas favelas, não tão diferente dos dias atuais. E para
chegar até aqui tive que romper comigo mesmo e com o ódio que adquiri e
alimentei, durante anos, tive que aprender a lidar e driblar as estatísticas,
romper com a dor em sabendo que era mais um á contar diariamente com toda a
sorte de bênção para não ser o próximo “atingido” por uma bala perdida nas ruas
ou drenado pelo sistema, crime. Na infância éramos nós bombardeados diariamente
pelas mazelas e seduzidos ao crime. Em nossa área tinha-se de tudo ao alcance
para seguir os descaminhos que nos levariam para a prisão ou para o cemitério.
O rancor em via contraria alimentou profundamente minha vontade de sobressair
ao destino imposto a nós. O medo de morrer jovem ou ser preso me fez abraçar as
poucas oportunidades que surgiram pelo caminho. A desesperança e o rosto
abatido anunciavam a insatisfação de ser subjugado e sentenciado por
"nascer" na favela e não ter o biótipo padrão estabelecido pela
“sociedade”.
Tamanha era a
indignação ao deparar-me com realidade excludente, á exemplo: Para ir ao
colégio tínhamos que passar à beira de condomínios, prédios de luxo e mansões
que propiciavam uma visão pronta e acabada do abismo que separava as favelas do
topo da pirâmide social no Brasil. E, é nestes espaços que nossas mães passavam
parte do dia cuidando dos lares e filhos dos abastados e nós nas ruas entregues
à própria sorte e aos cuidados de Deus e dos vizinhos. Enfim, de carregado de
sacolas na feira para as senhoras, em Itabuna na Bahia á vendedor de bilhete de
bicho e guardador de carro no centro de Londrina para lavador de carro em Cambé
á boia-fria nas lavouras de café, soja e algodão. Em cada um desses trabalhos
aprendi algo, mas foi nas ruas tive que aprender a lidar e driblar as
estatísticas, com auxílio de pessoas e projetos sociais. Sabido que era mais um
na linha de frente que contava diariamente com toda sorte de benção para não
ser o próximo drenado pelo sistema ou pelo crime.
Para chegar até aqui
tive que romper comigo mesmo, rasgar-me e renascer diariamente, tive que
reprender abrir mão do ódio que alimentava e aprender amar para seguir
contrariando as estatísticas, hoje, formado em teologia, psicologia,
empreendedor social e, hoje podendo sim projetar visão de mundo e se fazer
presente no discurso da vida pública. Não tendo que olhar para as periferias
como o primo pobre da sociedade burguesa e achar como foi dito á nós que todas
as mazelas emanam dos nossos territórios. Somos parte da sociedade e queremos
espaços e oportunidades, sabemos que o passado não foi fácil, e, quando olhamos
para o futuro, sabido que é possível trazem junto centenas de outros pares a
fazer muito mais não só pelas favelas, ás famílias ou por si, mas pelo país
como um todo, pois, sou movido pelas mesmas esperanças revolucionarias da
adolescência / acredito em um mundo igualitário.
Comentário e sugestão de pauta: contato.cufaparana@gmail.com
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